
O violeiro Paulo Freire me mandou recentemente o disco que acabou de produzir. Trata-se de Urucuia, do mestre Manoel de Oliveira – o Seu Manelim. Para quem gosta de música regional, vulgo caipira, são dezesseis bons motivos para ouvi-lo inúmeras vezes. Das mãos já calejadas pelos anos saem melodias e fraseados delicados – ora tristes, ora carregados da folia campestre. Seu Manelim brinca à vontade com sua velha viola e nos ensina o quão valioso pode ser um instrumento de madeira e cordas. Não estou falando de dinheiro. Me refiro àquilo que, para mim, é o grande valor da música: estimular os diferentes sentimentos que, por hora, esquecemos e nos são revigorados com uma simples combinação de notas. Essa sensibilidade, somente quem é capaz de entendê-la consegue nos fazer tocar. Esqueça de barulho, esqueça do trânsito, encontre um lugar aconchegante para deitar – de preferência uma rede – e escute Urucuia despreocupado do lado chato da vida. Tenho certeza de que sua alma encontrará refúgio garantido para repousar um tantinho. Comigo deu certo.