sexta-feira, novembro 24, 2006

REFÚGIO PARA A ALMA


O violeiro Paulo Freire me mandou recentemente o disco que acabou de produzir. Trata-se de Urucuia, do mestre Manoel de Oliveira – o Seu Manelim. Para quem gosta de música regional, vulgo caipira, são dezesseis bons motivos para ouvi-lo inúmeras vezes. Das mãos já calejadas pelos anos saem melodias e fraseados delicados – ora tristes, ora carregados da folia campestre. Seu Manelim brinca à vontade com sua velha viola e nos ensina o quão valioso pode ser um instrumento de madeira e cordas. Não estou falando de dinheiro. Me refiro àquilo que, para mim, é o grande valor da música: estimular os diferentes sentimentos que, por hora, esquecemos e nos são revigorados com uma simples combinação de notas. Essa sensibilidade, somente quem é capaz de entendê-la consegue nos fazer tocar. Esqueça de barulho, esqueça do trânsito, encontre um lugar aconchegante para deitar – de preferência uma rede – e escute Urucuia despreocupado do lado chato da vida. Tenho certeza de que sua alma encontrará refúgio garantido para repousar um tantinho. Comigo deu certo.

domingo, novembro 12, 2006

PEQUENAS MANIAS

Todo guitarrista tem uma mania. Durante o papo que tive com Dado Villa-Lobos, da extinta Legião Urbana, falávamos sobre a canção Índios (disco Dois - 1986). Eu queria saber mais sobre essa gravação. Foi então que o guitarrista carioca me explicou o seguinte: “era simplesmente um tema instrumental. Quando estávamos mixando essa faixa, o Renato Russo chegou com a letra e cantou, provavelmente, num take. O violão do final também entrou depois, gravado ali, junto com a letra – foi o Renato que tocou o violão. Eu não toco absolutamente nenhum instrumento em Índios. Assim como no primeiro disco eu não toquei em Por Enquanto. No disco Que País É Este 1978/1987, não toco em Angra dos Reis e assim por diante. Foi como uma superstição: em uma das faixas eu devia não tocar (risos)”. Isso que é mania! Qual é a sua?

domingo, novembro 05, 2006

CARA DE CAVALO

Momentos antes da clínica do Eric Johnson no EM&T, estava conversando com o André Christovam e o Wanderson Bersani. Enquanto tentávamos consumir a ansiedade, chegou por ali outro guitarrista, o Don Sil. Figura simpática e igualmente agitada pela iminente clínica do Eric Johnson. Entre outros assuntos, o Don Sil me entregou um CD e disse que era de seu grupo, o Cara de Cavalo. Pelo que ele me comentou na hora, eu imaginei um som bastante acústico, mesmo porque na contracapa ele e seu companheiro de música Macaue aparecem tocando violão. Don Sil estava visivelmente agitado por causa do Eric Johnson e nós acabamos não conversando direito sobre suas músicas. Ele apenas me disse: “escute e depois me diga o que achou”. Pois bem, lá por quarta-feira consegui finalmente escutar o CD do Cara de Cavalo, intitulado “Estéreo”. São doze faixas e na terceira eu me lembrei da impressão que tive no EM&T e percebi como estava totalmente enganado. Há violão sim – tocado por Macaue, mas fazendo uma excelente parceria com a guitarra de Don Sil. A sonoridade transita bastante por pop rock tranqüilo, daqueles de se ouvir no carro indo para uma promissora noite de sábado. Eu poderia indicar “Menino de Rua” e “O Erro” como um bom começo para ouvir o CD, mas prefiro que você encontre as suas preferências. Vale a pena. O trabalho com as guitarras e violões ficou de primeira linha. Timbres nem encorpados, nem magros. Está na medida do bom gosto musical e do refinamento que apenas músicos competentes conseguem produzir.